No século V, os povos germânicos Godos e Suevos instalaram-se na Península. Em muitas regiões, encontraram núcleos populacionais surgidos com a romanização e que, a partir dos primeiros séculos da era cristã, desceram dos castros, povoando o litoral e as planícies.
Apesar de não existirem registos da época relativos a Souto, o primeiro povoamento da Freguesia teve, certamente, essa mesma origem.
No ano de 897, Gondezindo Eriz, homem rico da região, fez uma importante doação ao Mosteiro de Pedroso, na qual citava o “Mosteiro de São Miguel (...) na Uilla Acibeto (Azevedo)”, referindo-se ao território que hoje se designa por São Miguel de Souto.
Em 1050, o conde Gonçalo Viegas mandou fazer um inventário dos seus bens, em que se lê o seguinte: “item na vila de Proselhe (Mosteirô) a herdade de Adôr (...) item em Proselhe o Mosteiro que chamam Sala, que foi da condessa Dona Ildara e o deu ao abade Fraiulfo (...) item o Mosteiro de São Julião, por inteiro, que foi do abade Fraiulfo (...)”. Menciona-se, desta forma, o Mosteiro de São Julião, que se situava junto ao rio São Gião, entre Proselhe (hoje, Mosteirô) e Macieira, povoações que originaram os topónimos dos lugares de Macieira e de São Gião, na actual freguesia de Souto.
A primeira referência ao nome da Freguesia surge na doação que Aimar, sua mulher, filha e netos fazem à Sé de Coimbra, nos seguintes termos: “Esta é a carta de testamento que nós, Aimar e minha mulher Suzana, Makil, nossa filha, e Martinho e Gilvira, filhos dela, em são juízo e de nossa livre vontade, fazemos à Igreja de Santa Maria da Sé Episcopal de Coimbra e ao bispo do mesmo lugar, D. Maurício, e clérigos com ele assistentes (Cabido) de metade das herdades abaixo nomeadas e já descritas na carta de doação das mesmas, que Hermêncio Rodrigues fez a Cid Fredariz e mulher Capdamia. E jazem os outros herdeiros entre Douro e Vouga, no território de Santa Maria (...) e mais doamos o nosso quinhão das igrejas de São Vicente de Pereira e de São Miguel de Souto e de São Lourenço, como constam da carta supradita. Feita em 12 Dezembro 1107.”
A aldeia ou lugar de Souto surge, em 1142, com a designação de “vila Souto”, numa doação de Godinho Guimarães aos cónegos do Mosteiro de São Salvador de Grijó: “Eu, Godinho Guimarães, dou a vós, cónegos do Mosteiro de São Salvador de Grijó, a minha herdade que tenho na «vila» de Macieira, a saber: metade da herdade de meu avô Bertuflo e a terça parte da herdade de Cid Vermuiz e a herdade de Gonçalo Sarrazino e Frenile em São Jião, ou seja, a sexta parte de toda a «vila». E a terça menos a oitava do casal de Dona Froila. E a meia oitava do casal de Mido... Dou o texto na vila já mencionada a sexta parte inteira das referidas herdades com todos os seus préstimos por onde as puderdes identificar determinadas por seus antigos limites. E começa a divisória na pedra onde chamam Forca del Cid Cavalo e vai ao Louriçal e daí pelo Enxúdrio atravessa o rio de Guandia e vai às pedras sicillatas que estão entre Mosteirô (monasteriolo) São Jião e torna ao rio, correndo por ele até à extrema do casal de D. Froila onde, deixando o rio, corta para o sul pela Pedra Grande, contornando o monte e o casal de D. Froila o limita com a «vila Souto» e vai à presa da água do moinho de Souto e vai à pedra que está no casal do Mido e Valdemar, daí à espinha do valo que divide Barrela de Macieira e torna ao rio já nomeado no sítio onde entra nele a água de Caritôso e vai por ele até à saída da água e vai aos «báculos» que estão entre Travanca e Macieira e daí pelo valo antigo, incluindo o casal de Patre e Areias, vai ao rio de Palumbos que atravessa para norte e ao moinho velho e continua pelo Rego até onde foi a presa d’água que está entre Frenile e casal da Torre e daí pelo valo que está sobre a Fonte-Cova e daqui à pedra da sobredita Forca de Cid. Ano 1142 (Baio Ferrado).”
Em 1152, Pedro Paio doa metade dos seus bens ao Mosteiro de Grijó, na condição de ser sepultado neste Mosteiro. Em compensação, recebe dos cónegos, para usufruir até à sua morte, a herdade legada ao Mosteiro por D. Bona.
A Igreja Paroquial situa-se longe da Freguesia, porque surgiu no lugar do Mosteiro e os monges edificavam as suas fundações em ermos.
Em 27 de Agosto de 1933, foi inaugurada a rede eléctrica de Souto, obra de um grupo de Soutenses.
Em 30 de Março de 1992, foi aprovada, em Assembleia de Freguesia, a proposta de promoção da freguesia de Souto a Vila, com a designação de São Miguel de Souto. A Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira emitiu parecer favorável, em 29 de Maio de 1992, e a Assembleia da República, em reunião plenária de 20 de Maio de 1993, elevou a povoação de Souto à categoria de Vila.
O Padre Jorge Pires de Figueiroa foi o primeiro Reitor de Souto. Era um dos capelões privativos de D. Maria, segunda esposa de D. Manuel I. Após o falecimento da soberana, ficou ao serviço de sua filha, a Infanta D. Isabel, mulher do Imperador Carlos V, e integrou o séquito que a acompanhou, quando partiu para Castela, em 1525. D. Isabel de Portugal faleceu muito jovem e o Padre Jorge Pires de Figueiroa, finda a sua missão na corte imperial, regressou ao país natal, alcançando provimento na Paróquia de Souto, muito cobiçada, na época. Faleceu em 1544.
Em 19 de Abril de 1504, o benefício paroquial foi convertido, por Bula, em Comenda da Ordem de Cristo, cujo primeiro Comendador foi Gaspar Dias de Landim. O último Comendador de Souto foi o Marquês de Valença.
D. Miguel Vaz Guedes de Ataíde Azevedo Malafaia foi o último Comendador de Cabomonte, uma das mais antigas Comendas da Ordem de Cristo, em Portugal.
O Comendador Inácio José Monteiro foi uma das mais importantes personagens de Souto, em meados do século XIX. A sua fortuna e a influência política que exerceu, permitiram-lhe influenciar algumas decisões do Poder. Em 1850, saiu vitorioso de uma luta de interesses entre os influentes de São Martinho, São Vicente Pereira e Souto, conseguindo que a estrada que ligou Oliveira de Azeméis a Ovar, a Estrada Nacional 327, atravessasse a Freguesia.
A antiquíssima ermida de São Silvestre, que existiu a poente do Vale de Gesteira, no extremo sudoeste da Freguesia, é referida no Catálogo dos Bispos do Porto, em 1623, mas já se encontrava em ruínas, em 1758. A tradição justifica o seu precoce abandono com a seguinte lenda:
“Nos recuados tempos em que a maior parte do solo era inculto e maninho, e os montados logradouro comum, um lavrador de Souto conduziu o gado para os lados de São Silvestre e, ali, o deixou a pastar, sob a vigilância de um filhito. Casualmente, um dos bois entrou na ermida, cuja porta estaria apenas encostada ou aferrolhada com pouca segurança. Porém, ao voltar-se para sair, tocou com os membros posteriores na porta, que se fechou, aprisionando-o.
O pequeno pegureiro, quando notou a falta da rês, correu a avisar o pai. Não soube, porém, indicar o rumo que ela tomara, ao desaparecer. O lavrador procurou em toda a extensão dos montados, desde o Vale de Gesteira às Portadonas e das baixadas da Torre às Rotas de Guilhovai, mas sem resultado. Voltou a casa, desanimado e pesaroso, contando mais uma quebra no seu diminuto granjeio. Não lhe ocorreu procurar na ermida, a tresmalhada cabeça. «Nada - dizia consigo - os bois também rezam, mas é à noite, quando se deitam, depois da ceia, a remoer.»
O frio, a fome, a sede e a raiva de sentir, nos músculos, a força de um mastodonte e de não ter, nas extremidades dos membros, as articulações digitais com que uma criança conseguiria resolver a situação, desanimavam o pobre animal que, ao fim de uns dias, caiu, por terra, morto.
Volvidas algumas semanas, alguém, empurrando a porta da ermida, deparou com a carcaça do animal. Espalhado o acontecido, todos os moradores da redondeza acorreram ao local. Uns lamentavam o infortúnio do boi, outros, o prejuízo do seu dono, e todos, a profanação da Capela, que decidiram abandonar.”
De acordo com o cronista João Frederico, as imagens de São Silvestre e de Nossa Senhora das Neves foram transferidas para a Igreja Matriz. Estas imagens, segundo um inventário que se encontra entre os documentos da Confraria do Santíssimo de Souto, eram em pedra e estiveram, durante algum tempo, na sacristia da antiga Igreja.
O citado escritor diz ainda que “O Monte de São Silvestre pertence à Freguesia de São Vicente de Pereira; porém, a antiga ermida sempre foi da de Souto”.
Apesar de não existirem registos da época relativos a Souto, o primeiro povoamento da Freguesia teve, certamente, essa mesma origem.
No ano de 897, Gondezindo Eriz, homem rico da região, fez uma importante doação ao Mosteiro de Pedroso, na qual citava o “Mosteiro de São Miguel (...) na Uilla Acibeto (Azevedo)”, referindo-se ao território que hoje se designa por São Miguel de Souto.
Em 1050, o conde Gonçalo Viegas mandou fazer um inventário dos seus bens, em que se lê o seguinte: “item na vila de Proselhe (Mosteirô) a herdade de Adôr (...) item em Proselhe o Mosteiro que chamam Sala, que foi da condessa Dona Ildara e o deu ao abade Fraiulfo (...) item o Mosteiro de São Julião, por inteiro, que foi do abade Fraiulfo (...)”. Menciona-se, desta forma, o Mosteiro de São Julião, que se situava junto ao rio São Gião, entre Proselhe (hoje, Mosteirô) e Macieira, povoações que originaram os topónimos dos lugares de Macieira e de São Gião, na actual freguesia de Souto.
A primeira referência ao nome da Freguesia surge na doação que Aimar, sua mulher, filha e netos fazem à Sé de Coimbra, nos seguintes termos: “Esta é a carta de testamento que nós, Aimar e minha mulher Suzana, Makil, nossa filha, e Martinho e Gilvira, filhos dela, em são juízo e de nossa livre vontade, fazemos à Igreja de Santa Maria da Sé Episcopal de Coimbra e ao bispo do mesmo lugar, D. Maurício, e clérigos com ele assistentes (Cabido) de metade das herdades abaixo nomeadas e já descritas na carta de doação das mesmas, que Hermêncio Rodrigues fez a Cid Fredariz e mulher Capdamia. E jazem os outros herdeiros entre Douro e Vouga, no território de Santa Maria (...) e mais doamos o nosso quinhão das igrejas de São Vicente de Pereira e de São Miguel de Souto e de São Lourenço, como constam da carta supradita. Feita em 12 Dezembro 1107.”
A aldeia ou lugar de Souto surge, em 1142, com a designação de “vila Souto”, numa doação de Godinho Guimarães aos cónegos do Mosteiro de São Salvador de Grijó: “Eu, Godinho Guimarães, dou a vós, cónegos do Mosteiro de São Salvador de Grijó, a minha herdade que tenho na «vila» de Macieira, a saber: metade da herdade de meu avô Bertuflo e a terça parte da herdade de Cid Vermuiz e a herdade de Gonçalo Sarrazino e Frenile em São Jião, ou seja, a sexta parte de toda a «vila». E a terça menos a oitava do casal de Dona Froila. E a meia oitava do casal de Mido... Dou o texto na vila já mencionada a sexta parte inteira das referidas herdades com todos os seus préstimos por onde as puderdes identificar determinadas por seus antigos limites. E começa a divisória na pedra onde chamam Forca del Cid Cavalo e vai ao Louriçal e daí pelo Enxúdrio atravessa o rio de Guandia e vai às pedras sicillatas que estão entre Mosteirô (monasteriolo) São Jião e torna ao rio, correndo por ele até à extrema do casal de D. Froila onde, deixando o rio, corta para o sul pela Pedra Grande, contornando o monte e o casal de D. Froila o limita com a «vila Souto» e vai à presa da água do moinho de Souto e vai à pedra que está no casal do Mido e Valdemar, daí à espinha do valo que divide Barrela de Macieira e torna ao rio já nomeado no sítio onde entra nele a água de Caritôso e vai por ele até à saída da água e vai aos «báculos» que estão entre Travanca e Macieira e daí pelo valo antigo, incluindo o casal de Patre e Areias, vai ao rio de Palumbos que atravessa para norte e ao moinho velho e continua pelo Rego até onde foi a presa d’água que está entre Frenile e casal da Torre e daí pelo valo que está sobre a Fonte-Cova e daqui à pedra da sobredita Forca de Cid. Ano 1142 (Baio Ferrado).”
Em 1152, Pedro Paio doa metade dos seus bens ao Mosteiro de Grijó, na condição de ser sepultado neste Mosteiro. Em compensação, recebe dos cónegos, para usufruir até à sua morte, a herdade legada ao Mosteiro por D. Bona.
A Igreja Paroquial situa-se longe da Freguesia, porque surgiu no lugar do Mosteiro e os monges edificavam as suas fundações em ermos.
Em 27 de Agosto de 1933, foi inaugurada a rede eléctrica de Souto, obra de um grupo de Soutenses.
Em 30 de Março de 1992, foi aprovada, em Assembleia de Freguesia, a proposta de promoção da freguesia de Souto a Vila, com a designação de São Miguel de Souto. A Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira emitiu parecer favorável, em 29 de Maio de 1992, e a Assembleia da República, em reunião plenária de 20 de Maio de 1993, elevou a povoação de Souto à categoria de Vila.
O Padre Jorge Pires de Figueiroa foi o primeiro Reitor de Souto. Era um dos capelões privativos de D. Maria, segunda esposa de D. Manuel I. Após o falecimento da soberana, ficou ao serviço de sua filha, a Infanta D. Isabel, mulher do Imperador Carlos V, e integrou o séquito que a acompanhou, quando partiu para Castela, em 1525. D. Isabel de Portugal faleceu muito jovem e o Padre Jorge Pires de Figueiroa, finda a sua missão na corte imperial, regressou ao país natal, alcançando provimento na Paróquia de Souto, muito cobiçada, na época. Faleceu em 1544.
Em 19 de Abril de 1504, o benefício paroquial foi convertido, por Bula, em Comenda da Ordem de Cristo, cujo primeiro Comendador foi Gaspar Dias de Landim. O último Comendador de Souto foi o Marquês de Valença.
D. Miguel Vaz Guedes de Ataíde Azevedo Malafaia foi o último Comendador de Cabomonte, uma das mais antigas Comendas da Ordem de Cristo, em Portugal.
O Comendador Inácio José Monteiro foi uma das mais importantes personagens de Souto, em meados do século XIX. A sua fortuna e a influência política que exerceu, permitiram-lhe influenciar algumas decisões do Poder. Em 1850, saiu vitorioso de uma luta de interesses entre os influentes de São Martinho, São Vicente Pereira e Souto, conseguindo que a estrada que ligou Oliveira de Azeméis a Ovar, a Estrada Nacional 327, atravessasse a Freguesia.
A antiquíssima ermida de São Silvestre, que existiu a poente do Vale de Gesteira, no extremo sudoeste da Freguesia, é referida no Catálogo dos Bispos do Porto, em 1623, mas já se encontrava em ruínas, em 1758. A tradição justifica o seu precoce abandono com a seguinte lenda:
“Nos recuados tempos em que a maior parte do solo era inculto e maninho, e os montados logradouro comum, um lavrador de Souto conduziu o gado para os lados de São Silvestre e, ali, o deixou a pastar, sob a vigilância de um filhito. Casualmente, um dos bois entrou na ermida, cuja porta estaria apenas encostada ou aferrolhada com pouca segurança. Porém, ao voltar-se para sair, tocou com os membros posteriores na porta, que se fechou, aprisionando-o.
O pequeno pegureiro, quando notou a falta da rês, correu a avisar o pai. Não soube, porém, indicar o rumo que ela tomara, ao desaparecer. O lavrador procurou em toda a extensão dos montados, desde o Vale de Gesteira às Portadonas e das baixadas da Torre às Rotas de Guilhovai, mas sem resultado. Voltou a casa, desanimado e pesaroso, contando mais uma quebra no seu diminuto granjeio. Não lhe ocorreu procurar na ermida, a tresmalhada cabeça. «Nada - dizia consigo - os bois também rezam, mas é à noite, quando se deitam, depois da ceia, a remoer.»
O frio, a fome, a sede e a raiva de sentir, nos músculos, a força de um mastodonte e de não ter, nas extremidades dos membros, as articulações digitais com que uma criança conseguiria resolver a situação, desanimavam o pobre animal que, ao fim de uns dias, caiu, por terra, morto.
Volvidas algumas semanas, alguém, empurrando a porta da ermida, deparou com a carcaça do animal. Espalhado o acontecido, todos os moradores da redondeza acorreram ao local. Uns lamentavam o infortúnio do boi, outros, o prejuízo do seu dono, e todos, a profanação da Capela, que decidiram abandonar.”
De acordo com o cronista João Frederico, as imagens de São Silvestre e de Nossa Senhora das Neves foram transferidas para a Igreja Matriz. Estas imagens, segundo um inventário que se encontra entre os documentos da Confraria do Santíssimo de Souto, eram em pedra e estiveram, durante algum tempo, na sacristia da antiga Igreja.
O citado escritor diz ainda que “O Monte de São Silvestre pertence à Freguesia de São Vicente de Pereira; porém, a antiga ermida sempre foi da de Souto”.
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