segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Caminhada Radical '07

Mais uma vez, o Grupo de Jovens tomou a iniciativa de realizar mais uma caminhada radical. Este ano, o destino e a paisagem foram diferentes: percorrer as margens do Rio Douro desde Canedo até Peso da Régua, em quatro dias. Parecia impossível…
Com efeito, fomos transportados até Canedo, onde demos inicio à aventura. O primeiro objectivo era chegar a Pedorido.
Assim nos pusemos a caminho, mas cedo nos metemos por atalhos e, como toda a gente sabe, em trabalhos! O mato era denso e os trilhos formavam um labirinto que, nem com a bússola nos orientamos. Perdemos cerca de uma hora a percorrer dois quilómetros, até que chegamos a um precipício com cerca de 40 metros de altura, onde, lá em baixo estava uma zona industrial. Seria Pedorido? Contornamos a valeta com alguma dificuldade, pois estávamos mesmo no limite da queda, até que alcançamos uma rua. Após a consulta de mapa e de algumas pessoas, descobrimos que estávamos em Póvoa e que faltavam 3 km até ao primeiro destino. Para o início, já estava a correr bem…! Aqui, na Póvoa, recuperamos energias, descansando um pouco. A partir daqui a paisagem começou a ficar bonita. O Rio Douro avistava-se ao fundo e Pedorido também. Era só mais um esforço. Chegados a Pedorido, pudemos apreciar o Douro de perto. Magnífico. Lindo. E com a foz do Rio Arda a embelezar ainda mais as vistas…
Daqui partimos em direcção a Castelo de Paiva, a cerca de 20 km. Não havendo alternativa, seguimos pela estrada nacional, onde decorriam obras de aumento de faixas. Desde logo sentimos a dificuldade e a perigosidade do caminho. Aqui não haviam atalhos, mas depois do ocorrido, quem ia arriscar perder-se novamente? Tudo o que queríamos neste momento, era encontrar um lugar calmo e seguro para almoçar. Andamos alguns quilómetros até aparecer uma placa com a indicação “Raiva”. Esta localidade ficou célebre pelo desastre da ponte de Entre-os-Rios. Olhamos em redor e, lá ao fundo, via-se uma capela, um cemitério e uma quinta fabulosa – do século XVIII, muito verde, de tanta vegetação que tinha. Era o local ideal para almoçar. Assim foi. Entramos por uma ruela de paralelo, pelo meio de carvalhos lindos, rodeados de magníficos jardins, com várias flores, passando por um velho pelourinho e com o Rio a contemplar-nos. Seguimos o caminho até à capela. Ali ficamos cerca de duas horas, almoçamos e descansamos. Paisagem belíssima, mirando os cruzeiros que passavam a toda a hora no Rio.
Após o descanso, sabíamos que tínhamos ainda um longo percurso a fazer, e pusemo-nos a caminho. Subimos novamente em direcção à estrada que nos guiaria até Castelo de Paiva. Enchemos os boiões numa pequena fonte e percorremos cerca de 8 km – tínhamos em mente chegar a Cinfães ainda no primeiro dia – e Castelo de Paiva nem vê-lo! Nem uma tabuleta com a indicação havia. Passamos Entre-os-Rios (a placa, claro!) e continuamos a seguir a estrada. Até que, milagre, passava por nós a carreira até à vila!
Sabíamos que aqui não conseguiríamos arranjar sítio para dormir, e também conscientes que não conseguiríamos chegar a Cinfães (a placa indicava 26 km!), pusemo-nos novamente à estrada. Andamos cerca de 4 km até uma aldeia denominada Castelo – empoleirada em socalcos, perto da foz do Rio Paiva, junto ao Rio Douro. Como sabíamos que tínhamos percorrido 4 km? Pois bem, aqui encontramos uma indicação “Cinfães 30 km”. Ora, teríamos andado para trás? Ficamos atónitos! Decidimos arriscar a ficar e a encontrar lugar para jantar e pernoitar. Descemos a encosta até à praia, junto ao enlace dos rios Douro e Paiva, de onde se avistava uma bonita ilhota. O areal era, logicamente pequeno, ficava junto a um pequeno cais e a um bar – “Bar das Piscinas”. Seriam cerca das 18 horas quando jantamos, uns “restos” que ainda tínhamos, mas que nos deixou satisfeitos. Completamente estoirados de cansaço, com os ombros espalmados e as pernas doridas, e com a agravante da ameaça de chuva – que se ficou pela ameaça – tínhamos que encontrar um lugar coberto e seguro. Foi daí que nos apercebemos que o bar não iria abrir e por trás deste, encontrava-se uma zona de acesso a balneários coberta. Foi a nossa salvação. Já abrigados e com a barriga aconchegada, ainda deu tempo para conhecer um pouco a aldeia. Subimos a ruela por entre as casinhas, bonitas e arrumadas, e paramos num café, onde assistimos a derrota do Porto e nos ofereceram boleia até Cinfães no dia seguinte.
Pois bem, o despertar foi ao som dos passarinhos, cedo, pois tinham-nos prometido boleia… Após tomado o pequeno-almoço, esperamos pela boleia. Enganaram-nos bem! Qual boleia, qual quê?! Ninguém apareceu e já mentalizados de que teríamos de ir para Cinfães a pé – 30 km lembram-se? – e, num relance de 2 segundos, apareceu a camioneta que terminava carreira precisamente em Cinfães!
Após cerca de meia hora de viagem, e de repararmos a quantidade de caminho que teríamos de percorrer, até bradamos aos céus. Nunca chegaríamos a Cinfães no dia inteiro, quanto mais numa só manhã! O autocarro revelou-se excelente solução. Durante a viagem, apreciamos o Rio Douro e as várias vilas e aldeias por que passamos, destacando a Barragem do Carrapatelo.
Em Cinfães não perdemos tempo, apenas visitamos a Igreja e um pequeno jardim no centro. Tiramos umas fotografias e em pouco mais de 5 minutos já estávamos na estrada, rumo a Resende. Distava de cerca de 26 km. A certa altura do percurso, encontramos um sinal que dizia “Miradouro de Teixeirô”. Perguntamos a um condutor a que distância ficava, ao qual nos disse que seria apenas 1 km. Decidimos arriscar e não nos arrependemos. Para além de ser uma vista esplendorosa, saímos do perigo da estrada e descobrimos sítios e caminhos sensacionais. Continuando a pé, saímos a uma estrada que seguia para junto do Rio Douro, mas como a distância era longa, pusemo-nos prontamente em atalhos. Desta vez, cortamos o mato. Por entre pinheiros, carvalhos, silvas e terra, poupamos bastante caminho. Descemos à estrada e seguimos para Porto Antigo, passando por uma lindíssima localidade, Pias, e pela ponte do Rio Bestança. Um lugar muito bonito.
Chegados a Porto Antigo, onde se vislumbrava um vigoroso hotel, e uma paisagem única – que, aliás, já tínhamos contemplado do miradouro – com a união do Bestança com o Douro, e com a passagem de inúmeras embarcações a embelezar. Ali, junto à ponte, almoçamos uns chouriços e queijo com pão de rosca, comprado numa pequena mercearia, que se situava junto do referido hotel.
Como ainda tínhamos uma longa caminhada até Resende, pusemo-nos a caminho, mal terminado o almoço – pois desde Cinfães “só” tínhamos percorrido 8 km (atendendo que tínhamos saído de Cinfães por volta das 10.30h e chegamos a Porto Antigo por volta das 12h, a média até nem está má…!).
Incrivelmente, o calor apareceu em força, mas a paisagem era de tal modo fabulosa que nem ligávamos a isso. Caminhamos bastante, passando por Oliveira do Douro, até que encontramos uma tubagem de águas que unia o Rio Cabrum, cerca de 200 metros lá em baixo, às diversas aldeias circundantes. Reparamos que, paralelamente à tubagem seguia uma escadaria vertiginosa. Para cortar caminho, descemos “milhares” de degraus, amparados por corrimão de cor verde. Quando chegamos ao final da escadaria, já junto ao rio, as nossas mão estavam verdes, mais parecíamos o Incrível Hulk! Aqui, junto ao rio, paramos para descansar e aproveitamos para tomar uma banhoca! Já estávamos a precisar, pois o calor deixou mossa. Uma hora depois, abandonamos o local e continuamos a nossa caminhada para Resende, pois era lá que terminávamos a “segunda etapa”. Quando descíamos o Rio Cabrum – por sinal, o mais limpo da Europa (acabara de deixar de o ser, pois lavamo-nos lá!) – apareceu uma carrinha, daquelas denominadas “de caixa aberta”, que nos deu uma preciosa boleia!
Chegados a Resende, a única preocupação era encontrar um canto para dormir… Reparamos logo que ali não iríamos conseguir nada. Depressa saímos da localidade rumo ao incerto, à procura de um sítio onde ficar. Andamos até um cruzamento com tabuletas que indicavam Lamego e Ponte da Ermida. Pedimos informações a um rapaz que por ali passava, referindo que a ponte ficava “já ali”. Nem hesitamos! Mal sabíamos que este “já ali” demorou duas horas a percorrer! Passamos a ponte, já exaustos, e a única possibilidade de sucesso onde pernoitar, seria junto à Estação da Ermida, na outra margem do Douro. Mas até lá ainda faltava bastante caminho. Contudo, não havia alternativa. Depois da ponte seguimos um trilho – o “Caminho da Foz” – que acompanhava o Rio Teixeira. Caminhamos tanto, que atravessamos a linha de comboio e demos por nós dentro de uma quinta privada. O pior, é que este caminho, para variar, não tinha saída! Tivemos que atravessar o rio a pé, para podermos sair dali. Assim feito, ainda deu tempo para roubar umas laranjas, chegamos à tão ansiada estação. Havia um pequeno restaurante e um café, e um pequeno cais, onde se encontravam uns pescadores. Era certo que na estação não nos deixariam pernoitar, o que nos levou a colocar a hipótese de seguirmos imediatamente de comboio para Peso da Régua. Logo esta hipótese foi colocada de parte. Um senhor, com cerca de 40 anos, proprietário do café disse-nos: “vocês são loucos. Na Régua não encontram onde dormir. Lá, ninguém vos dá nada! Podem ficar aqui, numa cave que temos por baixo.” Oh, maravilhosa canção que ele nos cantou! Depois desta noticia fabulosa, jantamos – chouriço, salsichas, batatas, presunto, pão e bolos – qual banquete! De referir que a casa de banho da estação se revelou muito útil! Enfim, completamente cansados, fomos deitar-nos, já na tal cave. Ao início da noite, o senhor veio ter connosco, oferecendo-nos aguardente pura! Uns beberam, outros provaram e outros ficaram-se pelo cheiro! A aguardente era óptima para assar as salsichas! E ainda tivemos umas lições de sobrevivência! – sabiam que uma picada de abelha se cura com o nosso próprio suor? Não experimentamos, mas é curioso.
Peso da Régua distava apenas 25 km da Estação da Ermida. Como tínhamos de apanhar o comboio das 8.15h na manhã seguinte, fomos dormir. Pelo menos tentar, pois a meados da noite, começou a chover, e qual o nosso espanto, chovia nas nossas cabeças! De facto, o senhor tinha avisado que a cave tinha umas fendas, devido às explosões que houve, aquando da construção da ponte.
De manhã apanhamos o comboio rumo à Régua, e já no destino tomamos o pequeno-almoço.
Conhecida por Capital do Vinho do Porto, Régua, é uma cidade moderna com poucos vestígios da antiguidade, foi também o berço de D. Antónia Adelaide, a célebre “Ferreirinha” que se notabilizou pelo impulso que deu ao Douro, no séc. XIX. Por toda a região circundante há belas quintas onde é produzido o delicioso Vinho do Porto.
Demos um grande passeio pela cidade, muito bonita. A certa altura, já a chover, decidimos dar uma voltinha num comboio turístico – do género daquele que há em Fátima. Ao som das tradicionais canções da vindima, percorremos algumas localidades circundantes, entre as quais Godim, onde se situa a garrafeira Caves Vale do Rodo. Aqui, tivemos direito a um pequeno vídeo sobre a empresa e a uma prova de vinhos. Ficamos a conhecer a diferença entre um vinho aperitivo e um digestivo. Foi uma experiência muito boa. Comprou-se umas recordações – vinhos e mel – e regressamos ao ponto de turismo onde se iniciou o roteiro.
Depois, procuramos uma tasquinha onde almoçamos. O estômago já tinha saudades de comida quente. Após o almoço, demos mais uma pequena volta pela cidade e constatamos que não valeria a pena ficarmos longe de casa mais um dia. Pois estava a chover e, numa cidade, não iria ser fácil encontrar local para pernoitar. A não ser no Hotel Régua Douro, de quatro estrelas… Pois, pois…!
Depois de uma “reunião” ficou estabelecido regressar a casa nesta noite. Mas ainda faltava muito tempo para termos comboio de regresso. Pois bem, assim sendo, decidimos dar uma saltada a Vila Real. Fomos de comboio – claro está! – , paralelamente ao Rio Corgo, sempre subindo por uma encosta íngreme e tormentosa.
Em Vila Real, visitamos a Sé, datada do século XV, que guarda as sepulturas de membros nobres da região e a praça em frente à Câmara Municipal. Como o tempo não era muito, lanchamos e apanhamos o comboio – que mais parecia um pequeno autocarro – rumo a Régua. Aqui trocamos de comboio e de seguida iniciou-se uma longa viagem de três horas até Ovar, passando por Campanhã. Durante a viagem, o Rio Douro acompanhou-nos quase sempre. Uma viagem lindíssima e inesquecível pela linha do Douro.
Assim terminou esta aventura, extraordinária, e com certeza, inesquecível.
Um abraço a todos os companheiros de caminhada.

AS FOTOS


































































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